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Adalgisa Campos - Desenhos


Ao conceber seu “Conjunto Discreto”, Adalgisa Campos explora relações entre conjuntos de obras de diferentes tempos de sua produção artística, não como necessariamente ocorre na sucessão entre 4 e 5, números naturais, mas reorganizando-as em partes que, enquanto conjuntos complementares, presentificam a ausência de outros tantos desenhos, aquarelas, frotagens, objetos, vídeos e performances realizadas desde o final da década de 1990. Subordinam-se todas essas obras a duas questões centrais para a poética da artista: conscientizar-se da própria ação ao desenhar, riscar, colar, tecer, pregar, editar, etc; achar uma razão estruturante em seus gestos que a faz coincidir com a estrutura das coisas representadas. A explicitação da ratio por detrás das imagens colhidas de sementes, galhos, folhas, pedras de calçamento, grãos ou de jogos que incorporam equações randômicas desfaz a impressão de que o desenho seja fruto de pessoas especialmente privilegiadas, aduzindo simultaneamente o desejo da artista de compartilhamento da ação de perceber e de perceber-se como medida de reconhecimento de uma determinada posição, prestes a ser alterada a qualquer momento. Pense-se em “Desenho de Memória” (2013) obra na qual a mão ao desenhar não se afasta, por artifício, do quadro percutido insistentemente a partir de gesto que replica a equação de crescimento de um ramo, donde de um graveto saem quatro, dos quais de um deles saem mais quatro, e assim por diante (1:4{1:4[1:4]...}) até a saturação do campo representativo. Demonstrando esta ação inversamente, aferimos não o galho de árvore, mas uma primeira representação sua em desenho de observação. Desta feita, faz-se um comentário sobre a origem dos percursos de algum artista a partir do desenho, entendido como potência de um ponto do qual toda linha principia.

Luiz Armando Bagolin
2013
Texto para a exposição 'Conjunto Discreto' - Galeria Virgílio - São Paulo


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